domingo, 12 de dezembro de 2010

Regressão


Quero compartilhar um momento da minha vida que aconteceu semana passada.

Fui fazer uma sessão de regressão e tive uma crise de nervos que quase fez com que meus cabelos cor de fogo pegassem fogo de verdade.

Ela, a terapeuta, iniciou a sessão me deixando o mais relaxada possível.

Deitei no divã e imaginei coisas lindas como cachoeiras, árvores, flores, sol e uma brisa leve tocando meu rosto.


De repente, não mais que de repente, eu estava novamente entrando no quarto branco.

A porta, a princípio, estava fechada.

Minhas irmãs e minha mãe vinham logo atrás de mim.

Abri a porta.

Uma enfermeira me pegou pelos braços e tentou falar alguma coisa que eu evitei escutar.

Segui adiante pelo pequeno corredor.

O quarto branco estava agora escuro. Não enxerguei nada.
A primeira lágrima correu dos meus olhos. E a segunda, e a terceira...
Por que estava tudo escuro? Eu tenho medo de escuro.

Parei por um instante.

Comecei a me enxergar debruçada em uma cama com minhas irmãs e minha mãe ao lado.
Havia um homem na cama.
Correram mais duas, três, centenas de lágrimas.

Aquele homem era meu pai.
E aquele era o início da pior fase da minha vida.


Meus nervos começaram a atrofiar aos poucos, fui sentindo meu corpo aquecer rapidamente.
Eu suava, chorava, e suava.

A terapeuta colocou a mão na minha testa e falou alguma coisa.

Rezou.

De repente, e mais uma vez, não mais que de repente, eu vi flores.
Muitas, muitas flores. Flores que cobriam aquela velha rampa por onde por um bom tempo carreguei meu pai nos braços.

As flores eram de todos os tipos, de todas as cores, de todas as formas.
Entrei na igreja e, mais uma vez, saltei direto para o pior momento.


Ele estava lá, deitado.
Dormia.
Havia flores em cima dele.
Um terno preto cobria o corpo que por muitas vezes abracei.
Seus olhos estavam fechados e ele estava sem os óculos.
(Como poderia enxergar sem os óculos?)


Meus nervos atrofiaram novamente. Peguei fogo. A terapeuta rezou.
Continuei pegando fogo e sentindo dor, muita dor.
A dor se estendia das pontas dos meus pés até o último fio de cabelo.
Eu disse: sinto dor.
Mais uma vez ela rezou e eu não conseguia abrir os olhos.


Foi quando ela me disse: veja ele bem. Enxergue ele bem.


De repente, não mais que de repente, eu estava acolhida em seus braços perto do lago da nossa colônia.
Eu o abracei e chorei em seus braços.
Ele me disse: Vai dar tudo certo, não desista, vai dar tudo certo.


Consciente de que eu estava segura ali nos braços do meu herói, retornei à sala de terapia.

Abri os olhos.


Em pensamento, apenas desejei: Pai, não se preocupe, eu vou ficar bem.


A terapeuta olhou para mim e tentou me explicar tudo que havia acontecido. Fiquei muito confusa e não prestei muita atenção às suas palavras.


Em pensamento, desejei mais uma vez: Pai, não se preocupe, eu já estou bem.

Um comentário:

adrianombonatto disse...

Olha eu de novo aqui!!!!
Gaby, fico feliz que você esteja procurando formas diversas se amenizar a sua dor.
Mas tem uma coisa que eu já te disse e repito, tudo o que você precisa realmente para superar essa fase e encontrar a sua luz está dentro de você. Acho que o medo do escuro é mais o medo do escuro dentro de você... comigo é assim pelo menos, eu tenho medo de escuro.
Tudo o que precisa está dentro de você, mas até conseguir encontrar, tenho certeza que já deve ter uma galera te dando maior força. Mas se precisar de um ombro de fora do contexto, que não faz ideia do que se passa, pode contar comigo.
Beijão!!