quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Valsa silenciosa


Tem horas que eu queria sumir do mundo. Desaparecer totalmente como as estrelas ao amanhecer do dia.
Queria evaporar pra qualquer outro lugar onde não houvesse ninguém, ninguém mesmo, nem aqueles que eu mais amo.
Estou me sentindo assim agora: sem rumo.

Há momentos que eu preferiria que minha vida esgotasse por aqui mesmo, que acabasse o oxigênio e que minhas células não trabalhassem mais.
Eu simplesmente não existiria mais.
É isso que eu quero agora: não existir.

Me sinto vazia, perdida, desolada, afastada de quem eu realmente sou.
Não há sentido em continuar inspirando e expirando esse ar cheio de dor que arranha minha garganta e faz doer o peito.
Eu me sinto assim: sem sentido.

Sumir, correr, fugir, escapar, me perder.
Dá vontade de cair no vício, de trocar de ritmo e dançar uma valsa silenciosa.

É assim que eu me sinto agora: uma valsa silenciosa, tocada por quem nunca se viu e nunca há de se ver. Escutada por quem nunca ouviu e dançada por mim mesma. Uma valsa lenta, sem melodia, sem ritmo, sem sintonia, sem harmonia, sem som, sem nada.
(Me nego a continuar escrevendo.)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Só queria te dizer.

Eu só queria dizer que...
Sabe...
Eu queria dizer que quando eu penso, preferia não pensar.
Eu só queria te dizer que depois de tudo o que aconteceu...
Eu só queria dizer que aquilo que eu disse era verdade, é sério.
Eu queria dizer que amanhã vamos pescar naquele lugar que eu te disse outro dia.
Eu queria te dizer...
Sabe... Só queria te dizer que não era mentira...
Eu só queria te dizer que eu faria tudo de novo, da mesma forma e quantas vezes fosse preciso.
Eu só queria dizer tudo que está entalado em minha garganta e que eu não consigo colocar para fora.
Eu queria dizer que eu me arrependo... Daquilo... Eu me arrependo... Você sabe que sim...
Eu só queria dizer que meus dias não foram mais os mesmos...
Que a melodia da minha música tornou-se lenta demais para eu continuar dançando.
Eu só queria dizer que se tudo tivesse dado certo.. Entende...
Se tudo tivesse dado certo... Você ainda estaria aqui e eu não choraria mais...
Eu só queria dizer... Só isso...
Só queria poder dizer, poder falar!
Eu só queria te contar mais histórias e queria que você pudesse escutá-las...
Eu só queria que você pudesse me escutar...
Só isso bastava. Mesmo que fosse só a minha respiração...
Que você escutasse minha respiração... Isso bastaria, pois eu estaria perto de ti...
Ah, como eu queria te dizer...
Somente te dizer...
Amor, saudade.
Amor, falta.
Amor, em silêncio, amor.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Regressão


Quero compartilhar um momento da minha vida que aconteceu semana passada.

Fui fazer uma sessão de regressão e tive uma crise de nervos que quase fez com que meus cabelos cor de fogo pegassem fogo de verdade.

Ela, a terapeuta, iniciou a sessão me deixando o mais relaxada possível.

Deitei no divã e imaginei coisas lindas como cachoeiras, árvores, flores, sol e uma brisa leve tocando meu rosto.


De repente, não mais que de repente, eu estava novamente entrando no quarto branco.

A porta, a princípio, estava fechada.

Minhas irmãs e minha mãe vinham logo atrás de mim.

Abri a porta.

Uma enfermeira me pegou pelos braços e tentou falar alguma coisa que eu evitei escutar.

Segui adiante pelo pequeno corredor.

O quarto branco estava agora escuro. Não enxerguei nada.
A primeira lágrima correu dos meus olhos. E a segunda, e a terceira...
Por que estava tudo escuro? Eu tenho medo de escuro.

Parei por um instante.

Comecei a me enxergar debruçada em uma cama com minhas irmãs e minha mãe ao lado.
Havia um homem na cama.
Correram mais duas, três, centenas de lágrimas.

Aquele homem era meu pai.
E aquele era o início da pior fase da minha vida.


Meus nervos começaram a atrofiar aos poucos, fui sentindo meu corpo aquecer rapidamente.
Eu suava, chorava, e suava.

A terapeuta colocou a mão na minha testa e falou alguma coisa.

Rezou.

De repente, e mais uma vez, não mais que de repente, eu vi flores.
Muitas, muitas flores. Flores que cobriam aquela velha rampa por onde por um bom tempo carreguei meu pai nos braços.

As flores eram de todos os tipos, de todas as cores, de todas as formas.
Entrei na igreja e, mais uma vez, saltei direto para o pior momento.


Ele estava lá, deitado.
Dormia.
Havia flores em cima dele.
Um terno preto cobria o corpo que por muitas vezes abracei.
Seus olhos estavam fechados e ele estava sem os óculos.
(Como poderia enxergar sem os óculos?)


Meus nervos atrofiaram novamente. Peguei fogo. A terapeuta rezou.
Continuei pegando fogo e sentindo dor, muita dor.
A dor se estendia das pontas dos meus pés até o último fio de cabelo.
Eu disse: sinto dor.
Mais uma vez ela rezou e eu não conseguia abrir os olhos.


Foi quando ela me disse: veja ele bem. Enxergue ele bem.


De repente, não mais que de repente, eu estava acolhida em seus braços perto do lago da nossa colônia.
Eu o abracei e chorei em seus braços.
Ele me disse: Vai dar tudo certo, não desista, vai dar tudo certo.


Consciente de que eu estava segura ali nos braços do meu herói, retornei à sala de terapia.

Abri os olhos.


Em pensamento, apenas desejei: Pai, não se preocupe, eu vou ficar bem.


A terapeuta olhou para mim e tentou me explicar tudo que havia acontecido. Fiquei muito confusa e não prestei muita atenção às suas palavras.


Em pensamento, desejei mais uma vez: Pai, não se preocupe, eu já estou bem.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Revolta

Eu juro que não queria que fosse assim, desse jeito.
Mas, pouca coisa posso fazer para que isso não aconteça.
Tenho medo dos dias e das noites que virão aos poucos.
Tenho medo também daquele pequeno pássaro que sobre meu ombro pousa cantarolando pequenas cantigas de dormir.
Tenho medo que em uma dessas pequenas cantigas eu acabe dormindo para sempre.

Vocês entendem o que eu digo?
Não. Claro que não!
E se entendessem, pouco importaria, não faria diferença alguma, pois nem você, nem tu, nem ninguém pode tirar essa caverna escura que eu construi dentro de mim mesma.
Essa caverna que eu construi com a ajuda dessa vida podre e injusta que não me deixa sequer sonhar o pouco de sonho que me resta.
Essa vida que não perturba só a mim, mas aqueles que amo também...

Vivam, seus Felizes, e me deixem em paz, literalmente.
Sorriem, seus Felizes, e me deixem em paz, por favor.
Sonhem, seus Felizes, e me deixem em paz, pelo amor de Deus.


Danem-se os sonhos que eu sonhei um dia.
Dane-se a vida que vivi um dia.
Dane-se tudo que algum dia jurei ser bom para mim.

Dane-se, dane-se, dane-se.
E ponto final.

(Desculpem, foi só um desabafo. As outras postagem não são agressivas desse jeito.)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Memorial e Largo Valério Schillo


Resolvi postar aqui o texto que escrevi e li na inauguração do Largo feito em homenagem ao meu pai...


Espero que todos gostem.



Cada palavra é resultado do pulsar do meu coração.


Cada emoção é resultado de um amor tão intenso e incondicional que são impossíveis de serem traduzidos em poucas letras e expressas em tão pouco espaço de tempo.



18/12/2009



"Falar de quem a gente ama é sempre muito complicado.


Mais complicado ainda é falar de quem a gente ama sem poder olhar nos olhos dessa pessoa e sentir um abraço de retribuição. É assim que me sinto hoje: falando para tantas pessoas, mas ao mesmo tempo me sentindo sozinha.


Meu pai, Valério Schillo, foi um grande lider, empreendedor e profissional. Todos o conhecem pelo seu espírito inovador e seu caráter incontestável.


Contudo, não vim até aqui para falar de um Valério que todos conhecem. Vim até aqui para falar de um Valério com o qual poucos tiveram a honra de conviver. Um Valério que era filho, irmão, pai, marido, cunhado e amigo. Uma pessoa de humildade incomparável com as unhas sujas de barro por plantar grandes sonhos na terra. Um homem de fé inabalável que via na igreja e em Deus a única fonte de forças para atingir os seus objetivos.

Este Valério que poucos conheceram trazia a família como uma relíquia, um objeto de adoração, uma base indestrutível e que merecia todos os cuidados para que nada de mal acontecesse. Era um Valério que não tinha irmãos, ele tinha 'manos', de coração e de alma.

Meu pai era e ainda é, de toda forma, meu melhor e mais fiel amigo. E não apenas meu, mas acredito que de muitos que o conheceram. Um irmão, um amigo conselheiro que não media esforços para ajudar aqueles que amava. Um homem que baseou sua vida inteira nos ensinamentos repassados por seus pais, trazendo consigo os valores da Igreja, da Família e da Escola.

Ele, meus queridos amigos, lutou até o fim. Nunca deixou de acreditar que um dia subiria novamente em seu pequeno trator para cortar a grama do tão sonhado centro ambiental. Que um dia subiria novamente a rampa da escola que ele tanto amava e pela qual dedicou toda sua vida. Que se reuniria com sua tão amada família para comemorar datas especiais ou simplesmente para ir pescar. que comemoraria o retorno do Ypiranga para a primeira divisão. Ele sempre acreditou na vida, ele sempre teve esperança.

E é por isso que nós, a tua família, queremos te agradecer por todos os teus ensinamentos, pois se tu foste importante para a comunidade erechinense, nem imaginas quão grande é a importância que tens para aqueles que realmente te amam.


Somos gratos de todo coração e te amaremos por toda eternidade.


Obrigada, Pai, irmão, filho, amigo.
Muito Obrigada Valério Schillo."