sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Por favor, preservem a inocência.


"O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer."


   Partindo dessa famosa frase de autoria do tão respeitado Albert Einstein, começo a escrever sobre um assunto que me intriga, me revolta, me dá náuseas e me deixa com sede de justiça.
     Venho aqui falar sobre abuso sexual de crianças e adolescentes.
   Para que todos possam compreender, eu trabalho com teatro e entre os meus trabalhos está um monólogo que trata sobre esse assunto. Esse monólogo, dirigido e escrito por Fabiano Tadeu Grazioli, tem como objetivo principal sensibilizar e informar a respeito desse assunto tão difícil de ser tratado. Digo isso, pois foi a afirmação que mais escutei por parte de psicólogas e assistentes sociais foi essa: esse é, de longe, um dos assuntos mais delicados e que merece um cuidado especial na hora de ser discutido.
    Bom, mas não quero falar sobre meu trabalho em si. Eu quero falar sobre o que aprendi e o que mudou dentro de mim ao trabalhar diretamente com crianças e adolescentes que sofreram abuso. Achei, no início, que eu estaria ajudando aquelas pessoas. Hoje, no entanto, compreendo que foram elas que me ajudaram.
    Certa vez, escrevendo sobre meu monólogo, disse a seguinte frase: "Ouvi histórias que jamais queria ter ouvido, vi olhares que jamais queria ter visto." De fato, as histórias que ouvi acredito que jamais deveriam ter acontecido. Contudo, elas aconteceram, continuam a acontecer e, sabe Deus o quanto me dói admitir isso, elas vão continuar acontecendo. 
      Em resumo, o que ouvi e o que vi foi o seguinte: meninos e meninas abusadas por homens e mulheres. Meninos e meninas abusadas por desconhecidos. Meninos e meninas abusadas por conhecidos de seus pais. Meninos e meninas abusados por vizinhos. Meninos e meninas abusados por adolescentes. Meninos e meninas abusados por parentes. Meninos e meninas abusados por avós. Meninos e meninas abusados por irmãos e irmãs. Meninos e meninas abusados pelos próprios pais...
      Quanto ao tempo: meninos e meninas abusados uma vez. Meninos e meninas abusados várias vezes. Meninos e meninas abusados durante parte da infância. Meninos e meninas abusados durante toda a infância. Meninos e meninas que foram abusados durante a infância e continuaram sofrendo abuso durante a adolescência...
     Meninos e meninas brancos, negros, pardos, índios... Meninos e meninas miseráveis, pobres, de classe média, de classe alta, de qualquer classe.
       Ouvi histórias de meninos e meninas abusados 'apenas' com toque. Soube de meninos e meninas que foram estuprados. Meninos e meninas que foram violentados até a morte.
       Mas, afinal, que direito tem um ser humano de roubar a inocência de uma criança? Que direito tem esse ser humano de roubar o brilho nos olhos de alguém que tantos sonhos tem, tanta vida tem? Que direito tem alguém de ver na ingenuidade uma forma fácil de satisfazer seus próprios prazeres? Que direito tem, meu Deus, que direito? Isso é perverso demais, é desumano demais.
        Como se não pudesse piorar, ainda tomo consciência de que casos assim acontecem diariamente, em todos os lugares.
          Eu sei que a maioria dos agressores sofreu abuso durante a infância. Sei que é algo que precisa ser tratado tanto com as vítimas quanto com os agressores. Mas isso não diminui minha repulsa e meu nojo daqueles que fazem isso.
          Até uns anos atrás, isso era um assunto que não podia ser tratado dentro das escolas. Aliás, pasmem! Ainda existem escolas que não permitem que esse assunto seja abordado com seus alunos. Eu vi muitas assistentes sociais 'brigando' para que as escolas abrissem um espaço para que nós fôssemos até lá e tentássemos de alguma forma ajudar aquelas crianças. Mas, como sempre, ainda tem gente que pensa que 'aqui não acontece esse tipo de coisa'.
       Diferentemente dessas pessoas, eu tenho convicção de uma coisa: jamais vou fechar os olhos para essa realidade. Pra mim, quem não denuncia, quem fica quieto é quase tão culpado quanto quem faz. Eu tenho nojo e repulsa de qualquer um que faça ou seja cúmplice de casos assim. Não vou mudar minha opinião a respeito disso.
       Eu queria escrever mais, mas vou deixar para um próximo texto. Esse é um assunto que não tem limite de discussão e que deve ser discutido sempre.
       E, por favor, se souber de algo, se suspeitar de alguém, DENUNCIE! 
            (Disque 100 ou vá ao CREA ou CRAS da sua cidade)
       

Gabriele Dors Schillo